terça-feira, 5 de julho de 2011

Pedrinho e a Teologia da Prosperidade

Era uma vez um homem muito rico chamado Elias. Constantemente ele era citado em revistas de negócios pelo sucesso de suas empresas. Era um modelo para jovens empreendedores e estudantes de administração em todos os sentidos. Elias era admirado inclusive pelos seus quase 4000 funcionários que o consideravam mais como um amigo do que como um patrão.
Mas a característica mais marcante em Elias era o amor que ele tinha para com os garotos de rua. Ao longo dos últimos anos, Elias já havia gastado milhões com casas de recuperação para drogados, orfanatos e escolas com cursos profissionalizantes.
Elias era totalmente inconformado com o sistema social que valoriza mais os animais do que as crianças. Não era raro ver Elias voltando para casa com uma nova criança de rua para cuidar.
Ele sempre fazia isso. Convidava as crianças e adolescentes de ruas a viver uma vida melhor do que nas ruas. E dava tudo de graça: moradia, conforto, amor paterno, alimento e também investia no ensino das crianças.
As crianças que davam valor ao presente de Elias e que quisessem prosseguir com os ensinos, ganhavam de Elias o ingresso para a universidade.
A história que apresento a seguir aconteceu quando Elias trouxe das ruas o jovem Pedro. Havia 56 crianças na mansão de Elias quando Pedro foi resgatado. Pedro tinha 12 anos. Aos 7 viu seus pais serem assassinados por deverem a traficantes poderosos. Pedro era usuário de maconha e cocaína e aceitou, com gratidão, o convite de Elias:
– Pedro, venha comigo. Serei seu pai e melhor amigo. Te darei roupas limpas, comida boa e um telhado para dormir. Você vai estudar, aprender uma profissão e vencerá na vida.
Pedro ficou constrangido pelo amor do velho Elias. Jamais alguém havia oferecido algo gratuito a Pedro (exceto as primeiras doses de droga).
As crianças resgatadas por Elias não deixavam de ser crianças. Eram bagunceiras e constantemente aprontavam bagunças na mansão do velho Elias, que não se alterava em relação a isto.
– Deixe eles brincarem. São apenas crianças – Dizia Elias.
Elias porém era bastante rigoroso em alguns pontos. Não aceitava as “panelinhas” entre os meninos e dizia que todos eram iguais, sem exceções. Ele ensinava para as crianças que os maiores tesouros que as pessoas podem alcançar são gratuitos: sinceridade, humildade e amor ao próximo.
– Eu sou dono de muitas empresas, sou respeitadíssimo em todo mundo, mas, se eu não tivesse amor, não teria nada. Sigam meu exemplo crianças.
Todas aquelas palavras encantavam Pedro. Ele já estava fazendo planos para o futuro. Pedro queria ser rico, muito rico, para retribuir o favor do velho Elias e ajudar os jovens nas ruas.
O começo desastroso dessa história começa em uma fria manhã de domingo. Pedro foi ao encontro de Elias em seu escritório e lhe disse:
– Pai, eu economizei uma parte do dinheiro que você me deu este mês. Não consegui lanchar na escola sabendo que meus antigos amigos estão nas ruas se destruindo por causa das drogas. Sei que não é muito, mas gostaria de lhe devolver esse dinheiro para que você ajude outras pessoas.
Aquilo encheu o coração de Elias de alegria. O dono de milhões se sentiu abalado por uma quantia de 15 reais.
– Pedro. Que gesto maravilhoso! Amo todos vocês sem distinção, mas esse foi o ato mais maravilhoso que já presenciei entre todas as crianças que resgatei.
Elias pensou em devolver o dinheiro a Pedro, mas pensou, “Isto desvalorizará o esforço que ele teve para juntar esse dinheiro”.
– Pedro – disse Elias – venha comigo.
Elias foi à estante de livros, abriu uma das prateleiras e retirou de lá um bracelete, o deu a Pedro e disse:
– Sua atitude é digna de louvor, estou orgulhoso de você. Venha, quero contar a todos seu ato. Eles devem ter no coração o mesmo sentimento que você tem.
Elias então chamou todas as 56 crianças, empregados e os vigias da casa para ouvirem o que ele tinha de falar.
– Crianças, alguns de vocês estão aqui há quatro anos. Sempre me orgulhei do crescimento de vocês. Porém, Pedro, que está aqui apenas três meses, foi o que me deu a maior alegria – e contou toda a história.
As crianças voltaram para seus quartos com sentimentos diferentes. Alguns sentiam inveja de Pedro, outros, orgulho. Muitos reconheceram que haviam se acomodado com o conforto, mas outros não gostaram da idéia de abandoná-lo.
Ao entrarem no quarto, Carlos percebeu o bracelete no braço de Pedro e indagou:
– Pedro, você só está aqui há três meses e pelo que ouvimos você economizou o dinheiro que tinha ganhado para devolver ao Pai, como você conseguiu esse bracelete de ouro?
– O Pai me deu de recompensa agora a pouco. Disse que eu mereci pelo que fiz.
Pedro por ser inocente não havia percebido, mas Carlos e os outros meninos perceberam que aquele bracelete era muito mais valioso do que a pequena quantia que Pedro havia devolvido.
Foi a partir daquela manhã de domingo que tudo mudou. As crianças entenderam tudo errado e passaram a fazer contas de como investir melhor o dinheiro do lanche. As crianças bolaram um esquema de Causa/Efeito para as ofertas que elas dariam. “Olha, Pedro deu 15 reais e ganhou um bracelete que deve valer mais de 1000 reais. Se eu não lanchar esse mês e pedir pra cancelar a aula de natação são 85 reais ao todo… O pai vai me recompensar bem assim”.
As crianças deixaram de amar Elias e começaram a bajulá-lo. Sempre viam a ele com uma lista mental de consumo. E o pior, se sentiam frustrados por Elias não corresponder à bajulação delas.
A situação já estava ficando embaraçosa. As crianças não cumprimentavam mais o velho Elias e se achavam no direito de exigir: “eu plantei e tenho direito de colher”. Quem sofria com isso era o velho Elias. Ele não cedia à alienação das crianças, pois não via sinceridade no coração delas. Para Elias, as crianças não estavam doando o dinheiro por amor aos órfãos de rua e sim para ganhar presentes.
Um dia Elias reuniu todas as crianças, exceto Pedro, pois temeu magoá-lo. Elias disse às crianças:
– Nas últimas semanas eu recebi vários envelopes em meu escritório vindo de vocês. Dentro dos envelopes eu encontrei dinheiro e um bilhete com o que vocês queriam em troca. Eu não cedi a nenhum dos pedidos lá e, desde então, tenho percebido que vocês estão tristes comigo. Eu salvei vocês do mundo. Dei alimentos, roupas novas, os matriculei na escola e dei toda estrutura para um crescimento de vida e vocês ainda querem mais? E tentam me comprar com dinheiro? Vocês realmente amam as crianças de rua ou usaram isso como desculpa para ganhar presentes?
Com essas palavras algumas crianças começaram baixar o semblante reconhecendo o erro. Porém Carlos e alguns outros se sentiam revoltados. Carlos então bradou em voz alta:
Eu fiz exatamente igual o Pedro, me esforcei, juntei dinheiro e dei a você para que você ajudasse as crianças de rua e você vem com esse papo?
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A história acima não é verdadeira, criei apenas para exemplificar a situação que a Igreja vive hoje em dia. Esse posicionamento de Carlos é o mesmo que muitas pessoas têm nas igrejas neopentecostais brasileiras. Tem-se pregado um sistema de causa/efeito onde Deus se torna um empregadinho passivo obrigado a conceder Prosperidade em troca de merrecas doadas por corações interesseiros.
Vivemos na era na bajulação profética. A adoração sumiu há muito tempo. Não é mais Deus o soberano do universo e sim nós. A situação atual me lembra o sistema geocêntrico, bolado pelo astrônomo grego Cláudio Ptolomeu (150 d.C.). Ptolomeu ensinava que a Terra tinha a posição privilegiada de centro do universo e que o sol, a lua e todos os planetas giravam em torno de nós.
De acordo com dados da ONU, 980 milhões de pessoas vivem em pobreza extrema no mundo. Enquanto isso a “igreja” tem pregado prosperidade pessoal e abundancia de bens materiais. Deus deve se enojar com isso. Eu sinto vontade de vomitar (quando não sinto vontade de socar alguns pastores por aí).
Charles Spurgeon, um dos principais personagens na história da Igreja Batista, disse certa vez: “Eu jamais ousaria usar uma coroa de ouro na terra onde meu Senhor usou uma coroa de espinhos”. E com essa frase eu termino. Que Deus tenha piedade de nós…

Por Eliel Vieira

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